As Estratégias de Propaganda. Empresas e Governos Exploram Jogos para Influenciar Gerações

Os jogos sempre foram mais do que simples formas de entretenimento. Eles refletem a cultura, os valores e até as estratégias de comunicação de uma época. No século XX, essa característica foi amplamente feita por empresas e governos, que viram neles uma oportunidade única de divulgar ideias, promover produtos e influenciar comportamentos.

Desde tabuleiros promocionais distribuídos por marcas famosas até jogos de guerra utilizados para reforçar ideologias políticas, a propaganda encontrou no universo lúdico um meio sutil, mas eficaz, de atingir diferentes públicos. Essa estratégia impulsionou campanhas publicitárias e programas governamentais. Deixou também um legado duradouro no mundo do colecionismo.

Desse tema super interessante meus leitores, vou dizer como os jogos foram utilizados como ferramentas de propaganda no século passado, analisando casos emblemáticos e seu impacto na sociedade e no mercado de colecionáveis.

Origens dos Jogos de Propaganda

Os jogos sempre tiveram um papel além do entretenimento, refletindo valores culturais e servindo como ferramentas educativas. As empresas começaram a perceber que eles poderiam ser utilizados estrategicamente para fortalecer marcas e fidelizar clientes. Essa abordagem inovadora marcou o início do uso deles como ferramenta publicitária e comercial.

Primeiros Registros de Jogos Promocionais e Comerciais

Os primeiros jogos voltados para propaganda surgiram no final do século XIX e início do século XX, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Um exemplo precoce é The Game of the District Messenger Boy (1886), que promovia valores de ascensão social e trabalho árduo, alinhados ao espírito capitalista da época.

Com a popularização, grandes empresas começaram a investir em materiais promocionais interativos. Marcas de alimentos, como a Coca-Cola e a Nestlé, lançaram jogos temáticos para atrair consumidores, enquanto indústrias automobilísticas e redes de lojas passaram a distribuir tabuleiros personalizados como brindes para fidelizar clientes.

A estratégia também se expandiu para o setor editorial. Revistas infantis e quadrinhos começaram a incluir jogos de cartas e tabuleiros em suas edições especiais, ampliando o engajamento do público.

O Crescimento do Interesse Comercial

Com o passar das décadas, empresas passaram a investir ainda mais em jogos personalizados para vincular sua identidade a momentos de lazer e diversão. Nos anos 1950 e 1960, essa estratégia foi intensificada com a distribuição em supermercados, cinemas e postos de gasolina.

O sucesso do Monopoly (Banco Imobiliário), que recebeu diversas edições patrocinadas por empresas, transformou o tabuleiro em um espaço publicitário disputado. Promoções de jogos colecionáveis, como figurinhas e cartas, se tornaram uma forma eficaz de incentivar compras recorrentes.

A Propaganda Incorporada aos Jogos Comerciais

Ao contrário dos jogos criados exclusivamente para persuadir ideologicamente, os publicitários tinham um apelo mais sutil. A ideia era fazer com que o consumidor criasse uma conexão emocional com a marca de maneira lúdica. Enquanto um tabuleiro promovia um refrigerante ou uma rede de fast food, ele também se tornava um objeto colecionável, o que incentivava sua permanência no mercado por anos.

Empresas que Usaram Jogos para Propaganda

A estratégia de utilizar jogos como ferramenta de propaganda não ficou restrita aos tabuleiros tradicionais. Em diversas partes do mundo, empresas incorporaram jogos físicos em suas campanhas, desde cartas colecionáveis até quebra-cabeças promocionais. Essas iniciativas ajudaram a fidelizar clientes, reforçar a identidade de marcas e, em alguns casos, influenciar valores sociais e ideológicos.

Jogos Publicitários ao Redor do Mundo

Europa. O Impacto das Marcas Alimentícias nos Jogos Promocionais

Na Europa, grandes empresas de alimentos foram pioneiras no uso de jogos para engajar consumidores. A Nestlé, incluiu jogos educativos em suas embalagens de chocolates no decorrer do século XX. Alguns consistiam em pequenos quebra-cabeças, enquanto outros traziam desafios matemáticos ou de conhecimento geral, incentivando pais a escolherem produtos que “ensinam brincando”.

A Ferrero, fabricante do Kinder Ovo, lançou diversos minijogos e desafios dentro de suas cápsulas surpresa. Essa estratégia impulsionou as vendas aumentando o valor sentimental dos produtos entre os consumidores.

Japão. Cartas Colecionáveis e o Poder do Hanafuda

No Japão, um dos exemplos mais notáveis vem da Nintendo, que, antes de se tornar uma gigante dos videogames, fabricava baralhos Hanafuda, um tipo tradicional de jogo de cartas japonês. A empresa fez parcerias com marcas para produzir edições especiais com temas promocionais, tornando o baralho uma ferramenta de marketing.

Empresas de brinquedos e doces no Japão investiram pesado em jogos de cartas colecionáveis distribuídos em pacotes de salgadinhos e chicletes. O Menko, um jogo de cartas ilustradas que, muitas vezes, trazia personagens de animes patrocinados por grandes marcas. Isso criava uma demanda constante, gerando aumento nas vendas e um forte apelo colecionável.

América Latina. Jogos Colecionáveis Como Estratégia de Venda

Na América Latina, marcas de refrigerantes e laticínios investiram em jogos colecionáveis como forma de fidelizar consumidores. Durante as décadas de 1970 e 1980, empresas como Fanta, Coca-Cola e Leche Nido lançaram promoções em que os consumidores colecionavam figurinhas ou cartas dentro das embalagens para completar um álbum ou montar um jogo.

No Brasil, foi o jogo de cartas promocional do refrigerante Guaraná Antarctica, distribuído nos anos 90. Outro caso clássico foi a coleção de peças do McDonald’s para o Banco Imobiliário, uma adaptação local do Monopoly, que incentivava os clientes a comprarem mais lanches para completar o jogo.

O Impacto dos Jogos de Propaganda no Comportamento do Consumidor

O sucesso dessas estratégias se deve ao vínculo emocional que os jogos criavam com os consumidores. Em vez de somente divulgar um produto, as empresas transformavam suas marcas em parte do dia a dia das famílias.

Muitos desses jogos se tornaram objetos de desejo para colecionadores. Versões raras, edições promocionais e exemplares bem conservados ganharam valor, tornando-se peças disputadas.

A influência não se limitou ao passado. Mesmo com a ascensão dos videogames e da publicidade digital, a conexão entre marketing e jogos continua forte, e o legado dessas campanhas pode ser visto no fascínio atual por itens promocionais vintage.

Governos e Jogos. Ferramentas de Persuasão e Propaganda

Diversos governos perceberam que poderiam usar esse método como instrumento estratégico para educação política, doutrinação e reforço de valores patrióticos.

Em muitos casos, foram projetados para parecerem atividades inocentes, mas continham mensagens que ajudavam a moldar a percepção de crianças e adultos sobre política, guerra e nacionalismo. A seguir, veremos como diferentes países utilizaram jogos como ferramentas de influência, analisando exemplos concretos que ilustram essa prática.

Estados Unidos com os Jogos Militares e a Cultura Patriótica

O governo e as forças armadas enxergaram uma oportunidade para educar jovens sobre táticas militares, despertar o interesse pelo recrutamento e reforçar o patriotismo.

O America’s Army (2002), foi um jogo eletrônico desenvolvido pelo Exército dos EUA para atrair jovens para a carreira militar. Com gráficos realistas e missões inspiradas em treinamentos reais, simulava o dia a dia de um soldado, ajudando a moldar a percepção do público sobre o exército como uma instituição heroica e essencial para a defesa do país.

Os tabuleiros lançados durante a Guerra Fria, eram onde os jogadores tinham que impedir ameaças comunistas ou defender a democracia contra invasões fictícias. Esses jogos ajudaram a consolidar a ideia de que os EUA estavam em constante conflito ideológico com o bloco soviético.

Alemanha Nazista e o Uso dos Jogos Como Ferramenta de Doutrinação

Durante o regime nazista (1933-1945), o governo de Adolf Hitler usou diversas mídias para espalhar sua ideologia. Jogos de tabuleiro e materiais educativos foram criados para normalizar discursos de ódio e exaltar a superioridade do regime.

O Bomber über England (“Bombardeiros Sobre a Inglaterra“), foi um jogo no qual os jogadores simulavam ataques aéreos contra cidades britânicas. Isso incentivava um pensamento militarista e ajudava a consolidar o apoio à guerra entre os jovens.

Outro exemplo infame foi Juden Raus! (“Fora, Judeus!”), que reforçava a perseguição aos judeus, retratando-os como um problema a ser eliminado. Jogos desse tipo eram parte da propaganda do Estado, moldando mentalidades e preparando as gerações futuras para aceitar as políticas nazistas.

União Soviética e os Jogos Para Fortalecer o Coletivismo

Na União Soviética, eles tinham um papel diferente dos utilizados por regimes fascistas. Em vez de focar no inimigo externo, muitos enfatizavam o trabalho em equipe e a importância da coletividade, alinhados à filosofia comunista.

Um exemplo foi o Novyi Byt (“Nova Vida“), onde os jogadores trabalhavam juntos para construir uma cidade socialista ideal, aprendendo sobre economia planejada e os benefícios do sistema soviético.

Jogos inspirados na corrida espacial exaltavam as conquistas soviéticas, como o lançamento do Sputnik e os feitos de Yuri Gagarin, reforçando o orgulho nacional e a confiança no regime.

China e a Educação Ideológica Através dos Jogos

Durante a Revolução Cultural, o governo chinês incentivou a criação de jogos educativos que ensinavam crianças sobre a importância do comunismo e do papel do Partido.

O Hongweibing Qiyi (“A Revolta dos Guardas Vermelhos“) simulava a participação ativa dos jogadores na revolução, ajudando a reforçar a lealdade ao governo. Outros destacavam a importância do progresso econômico e do planejamento centralizado, incentivando as crianças a enxergar o Partido Comunista como o motor do desenvolvimento nacional.

Já no século XXI, o governo chinês continuou investindo em jogos militares como Glorious Mission (2011), desenvolvido para treinar soldados e promover valores patrióticos entre os jovens.

Outros Países e Seus Jogos Políticos

Outros países também exploraram jogos como ferramentas de persuasão:

Coreia do Norte – Jogos infantis exaltavam a família Kim e retratavam o país como uma potência inabalável contra o Ocidente.

Cuba – Após a Revolução Cubana, materiais educativos foram criados para enaltecer Fidel Castro e Che Guevara, reforçando o sentimento anti-imperialista.

Irã – Durante a Revolução Islâmica, eles foram usados para reforçar valores religiosos e destacar a luta contra a influência ocidental.

O Impacto na Cultura e no Colecionismo

O seu uso como ferramenta política deixou marcas profundas na sociedade. Muitas dessas criações ajudaram a construir narrativas oficiais e moldar o pensamento de gerações inteiras.

Atualmente, se tornaram objetos de estudo para historiadores e peças raras para colecionadores. Alguns são procurados pelo seu valor histórico, enquanto outros são rejeitados devido ao seu conteúdo propagandístico.

A relação com a política continua até hoje, com governos investindo cada vez mais em tecnologias digitais para disseminar suas mensagens. O que antes era feito com tabuleiros e cartas, agora se expande para os videogames e plataformas online, provando que ainda são uma poderosa ferramenta de influência.

A Influência dos Jogos na Sociedade

Durante o século XX, diversos governos e empresas utilizaram jogos como ferramentas estratégicas para influenciar pensamentos e comportamentos. Essas iniciativas, longe de serem esquecidas, deixaram marcas profundas na cultura popular e na forma como a indústria dos jogos evoluiu.

A Formação de Percepções e Ideologias

A infância é um período em que ideias e crenças começam a se formar, e os jogos desempenharam um papel fundamental nesse processo. Ao interagir, muitas crianças cresceram absorvendo conceitos políticos, econômicos e sociais sem perceber.

Os militares ajudaram a criar uma mentalidade de defesa e preparação para conflitos. Títulos que exaltavam o coletivismo moldaram visões sobre cooperação e estrutura social. Já os comerciais, vinculados a marcas, estabeleceram associações inconscientes com produtos e estilos de vida específicos.

Essa influência atingiu diretamente as crianças, mas haviam jogos voltados para adultos que reforçaram narrativas sobre sistemas políticos, disputas territoriais e até relações internacionais, alimentando percepções que muitas vezes ultrapassavam o universo lúdico e se consolidavam na visão de mundo dos jogadores.

Impacto na Cultura Popular e na Indústria dos Jogos

As estratégias de persuasão utilizadas no decorrer do século passado influenciaram os jogadores da época e a maneira como os jogos modernos são concebidos.

Na cultura popular, muitos conceitos introduzidos continuam presentes em filmes, livros e séries. O imaginário de grandes conflitos, disputas geopolíticas e heroísmo nacionalista foi amplamente explorado na indústria do entretenimento, reforçando narrativas que surgiram nos tabuleiros e materiais promocionais do passado.

A indústria também evoluiu a partir dessas influências. O sucesso de títulos propagandísticos inspirou o desenvolvimento de novos modelos de jogo voltados para treinamento, simulação estratégica e educação.

Hoje, utilizam mecânicas similares às empregadas no passado, seja para ensinar conceitos financeiros, criar engajamento com marcas ou até mesmo divulgar campanhas políticas.

O Legado e as Reflexões Sobre Essa Influência

O seu uso como ferramenta de influência levanta questionamentos sobre o impacto de mensagens sutis no comportamento humano. Até que ponto os jogadores conseguem distinguir diversão de persuasão? Qual é o limite ético entre um jogo educativo e uma ferramenta de doutrinação?

Embora os métodos tenham se modernizado, a essência dessa estratégia permanece. Campanhas políticas, empresas e até governos utilizam videogames e plataformas digitais para alcançar públicos específicos, perpetuando uma prática que já se mostrou eficaz na história.

A relação com sociedade continua evoluindo, provando que, mais do que simples passatempos, eles possuem o poder de moldar pensamentos, influenciar decisões e definir narrativas que ultrapassam o tabuleiro ou a tela.

Portanto meus amigos leitores, os jogos foram amplamente utilizados no século XX como ferramentas de persuasão, seja para fortalecer marcas, disseminar ideologias ou influenciar comportamentos. Empresas os incorporaram para fidelizar clientes, enquanto governos os usaram para educação política e controle social.

O impacto dessas estratégias ultrapassou o contexto em que foram criadas. Muitas das narrativas e mecânicas desenvolvidas ainda influenciam sua indústria e a cultura popular. Mesmo com o avanço da tecnologia, os princípios de engajamento e influência continuam sendo aplicados em videogames, campanhas de marketing e conteúdos digitais.

Olhando para o futuro, a relação com a sociedade segue evoluindo. Se antes o tabuleiro era o meio de comunicação, hoje plataformas interativas e inteligência artificial ampliam ainda mais o alcance dessa estratégia. A história nos mostra que eles sempre foram uma poderosa ferramenta para moldar percepções e narrativas…